Neste ano li muitos sobre filosofia e esse aqui está entre os meus favoritos.
O livro “A coragem de ser feliz” é uma continuação de outro best seller chamado “A coragem de não agradar”, que li também há pouco mais de um ano.

Ambos os livros exploram a psicologia Adleriana, refente ao trabalho de Alfred Adler, um contemporâneo de Freud e Jung, mas sem o mesmo brilho acadêmico.
De fato, as ideias de Adler sobre a psicologia individual caberiam tranquilamente em escritos filosóficos, como encontramos em obras referenciadas a Platão ou Sócrates, mais do que no DSM.
O que tirei do livro?
Na verdade, não muita coisa nova. Provavelmente porque eu já era familiar com as ideias de Adler a partir do primeiro livro e os seus conceitos.
Concordo e pratico diariamente muitos dos elementos mencionados na obra, como, por exemplo, a observação de que a felicidade precisa vir de coisas que temos controle.
A reflexão consiste em tomar consciência de que deixar que a sua felicidade dependa diretamente da ação de terceiros nunca é uma boa ideia.
Não dependa de elogios, não dependa que outros façam algo por você, não dependa até mesmo de ser amado por outros para ser feliz. Mais do que isso, ame outras pessoas independentemente de como elas se sintam em relação a você.
Esse conceito faz referência direta aos “trabalhos da vida”, como Adler descreve. Isso inclue não fazer o trabalho de outras pessoas, negligenciando o seu, até porque, você só pode fazer o seu trabalho.
Um exemplo disso é ode que você não pode forçar uma amizade verdadeira, você só pode fazer a sua parte, o seu “trabalho”. Você não pode ser amigo pelos dois indivíduos, você pode amar pelos dois, sofrer pelos dois, mesmo que você tente.
Assim como, fazer as outras pessoas gostarem de você não é o seu “trabalho”. Formar uma opinião sobre você é o trabalho das outras pessoas e você não deveria se afligir com isso, já que é algo fora do seu controle.
A teoria de Adler tem um elemento estoico bem claro para mim:
“Não fique com raiva por coisas que você não controla, como o comportamento de outras pessoas, é tão idiota quanto ficar com raiva por que começou a chover”
Enquanto o livro “A coragem de não agradar” explica a teoria Adleriana, “A coragem de ser feliz” tenta dar exemplos mais práticos dessa teoria.
O livro, assim como o primeiro, funciona num formato de diálogo entre um jovem e um filósofo. Essa dinâmica é muito pertinente para esse tipo de história.
Ela é pobre, literariamente falando, num formato de “um fala, depois o outro”, sequencialmente, até o final, mas considero ainda assim uma abordagem adequada para o tema.
Livros de filosofia podem ser um pouco chatos às vezes e de leitura lenta, já que a ideia é que você reflita sobre as colocações, sem tratar tudo como axiomas. No caso de “A coragem de ser feliz” não é esse o caso. A leitura extremamente dinâmica, o que é incomum e bom.
Possivelmente o insight mais interessante que encontrei no livro, que não estava presente no primeiro, foi a reflexão sobre como produzimos felicidade para nossas vidas nos doando para outras pessoas de forma espontânea e completa, sem esperar nada em troca.
Pense em quando você gastou tempo e esforço para fazer algo por um amigo ou familiar seu, mesmo que ele não tenha solicitado ajuda, simplesmente porque você gostaria de ajudá-lo e vê-lo bem. A felicidade que nasce a partir de ações desse tipo é a mais genuína de todas.
Pessoas que desenvolvem a virtude de conseguirem ajudar sem querer nada em troca, nem mesmo um retorno emocional da outra parte, são as que conseguem experienciar as maiores ondas de felicidade. São completas em si, nada mais estoico.
Exemplo comum: Esse é o tipo de amor e aplicação que costumeiramente vemos na relação de pais para com filhos, por exemplo. Esse amor incondicional promove a felicidade sob qualquer situação e claro, não se restringe a esse tipo de relacionamento.
Vale a pena a leitura?
Sim, especialmente se você leu o primeiro livro, se não, recomendo começar pelo “A coragem de não agradar”. Caso você não goste dele, provavelmente não vai gostar e nem vai entender muito bem o segundo livro também.
Inclusive, por melhor que sejam as intenções dos autores, “A coragem de ser feliz” tem toda a cara de um livro que a editora “forçou” os autores a escrever na expectativa de continuar vendendo, já que ele não acrescenta muito a teoria, na minha visão, e nem mesmo amplia muito o assunto do primeiro livro.
Felizmente, esse esforço com um possível viés comercial, que é compreensível, mas nem sempre desejado, não corrompeu a obra, porém, como tantas continuações em livros, no cinema e em games, ela é menos relevante do que a primeira obra.
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